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A beleza do Bom Pastor como fonte inspiradora para a minha ação pastoral

A figura do pastoreio, desde o início, tanto no judaísmo, de acordo com as narrativas dos doze patriarcas, como no cristianismo, nascido no interior do povo de Israel, teve como finalidade descrever e salientar o zelo que os líderes, os mestres da Lei, os apóstolos deveriam ter pelo bem e pela salvação do rebanho que lhes era confiado. Pressupõe-se que o Pastor (poimh,n), ou agente pastoral hoje, conheça a ovelha em sua individualidade. Isso significa demonstrar interesse e cuidado incondicional, na dimensão espiritual humana, a fim de descobrir atitudes profundas que o motivaram a realizar sua missão e que demonstram o perfil genuíno de sua personalidade. O pastoreio conduz à fonte de vida espiritual capaz de configurar o perfil de mulheres e homens, desejosos de que participar no ministério pastoral da Igreja, segundo o plano salvífico universal do Pai.

        A figura do Pastor tem um profundo significado bíblico, ou seja, o da relação de Deus com o seu povo. Segundo o Antigo Testamento, Deus conduziu o seu povo pelo deserto (Ex 17,1). O rebanho de Deus foi confiado a seus pastores com a missão de guiá-lo para a Terra Prometida. No Novo Testamento, sobretudo no Evangelho segundo João, há a mentalidade de que o Pastor cuida e guarda o rebanho contra os animais ferozes (Jo 10,12); descreve-se a Igreja de Jesus Cristo sendo cuidada (cf. Jo 10,16) pelo Bom Pastor (kalo,j poimh,n).  

      O profundo sentido da missão eclesial de pastorear tem o modelo do Bom Pastor proposto pelo próprio Cristo. Como Pastor, o presbítero hoje partilha o múnus do Cristo de ensinar, santificar e governar em colaboração com outros presbíteros, diáconos, fieis leigos, sob a autoridade do Bispo diocesano como Pastor pleno da Igreja particular. Seu ministério é estar à frente como Pastor que orienta o seu rebanho, na unidade da fé, em comunidade, na qual se revela o Deus vivo, Jesus Cristo Pastor, ao mesmo tempo Sacerdote, Altar e Vítima, que se oferece por nós todos e para a salvação da humanidade.

      Ao dizer “Eu sou o Bom Pastor” (Vegw, eivmi o` kalo,j poimh,n - cf. Jo10,11), Jesus se põe em pé de igualdade com o Deus libertador do Êxodo que assim se deu a conhecer a Moisés: “Eu sou aquele que sou” (Ex 3,14). Jesus é a memória e a presença viva do Deus que conduz o povo para fora de tudo o que oprime e diminui a vida; inicia-se com Ele novo e definitivo êxodo rumo à vida em plenitude que Deus quer para todos.

Segundo o Papa João Paulo II mencionou em uma carta aos artistas, “toda a autêntica inspiração contém sopro com o qual o Espírito criador penetrava a obra da criação desde o início. Presidindo às misteriosas leis que governam o universo, o sopro divino do Espírito criador encontra-se com o gênio do humano e estimula a sua capacidade criativa. Ele o atinge com uma espécie de iluminação interior que junta o bom e belo e acorda nele as energias da mente e do coração que lhe permitem conceber uma ideia e dar-lhe forma na arte. Trata-se de momentos de graça, porque o ser humano tem a oportunidade de experimentar o Absoluto de alguma forma que transcende”.[1]

Portanto, o Cristo como Bom Pastor deu sua vida pelo rebanho e ressuscitou para pastoreá-lo, continua sendo uma experiência viva para a Igreja neotestamentária e é aplicada na ação pastoral. Abre-se para a perspectiva do pastoreio segundo o Evangelho de João ao discipulado-missionário. Esse tema não se esgota aqui. Que o Bom Pastor nos conduza em seus caminhos, para que tenhamos vida, e vida em abundância (cf. Jo 10,10).

 

Autor: Profa. Susana Aparecida da Silva (Mestranda em teologia bíblica pela PUC-SP)



[1] MARTINI, Carlo Maria. Quale bellezza salverà il mondo? Centro Ambrosiano, Milano: Lettera Pastorale, 1999. Tradução nossa.