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Qual beleza salvará o mundo?

A beleza no pastoreio que salva o mundo é o amor que compartilha a dor. Não é a beleza sedutora que afasta do verdadeiro objetivo para o qual o coração inquieto se orienta; antes, é a beleza tão antiga e sempre nova que Agostinho confessa como o objeto de seu amor purificado pela conversão, a beleza de Deus é a beleza que caracteriza o Pastor que nos conduz com firmeza e ternura sobre os caminhos de Deus.  É a beleza sobre o qual o Papa João Paulo II escreveu na Carta aos Artistas, afirmando: “ao perceber que quanto Ele tinha criado era bom, Deus viu que isso era belo. A beleza é, em certo sentido, a expressão visível do bem, como o bem é a condição metafísica da beleza.” É diante da beleza que a alma sente uma elevação para além da suscetibilidade do prazer sensível (cf. Kant, Crítica do Juízo, § 59). Portanto, o fascínio é o que desperta alegre atração, agradável surpresa, entusiasmo; ou seja, aquilo que o amor descobre na pessoa amada, aquela pessoa que se percebe como digna do dom de si, para a qual se está pronto a sair de si mesmo e a jogar-se com facilidade.

          Qual beleza salvará o mundo? Segundo Martini “não é suficiente denunciar as feiuras de nosso mundo. Nem basta, para a nossa época desencantada, falar de justiça, de dever, do bem comum, de programas pastorais, de exigências evangélicas. É preciso falar com o coração cheio de amor, fazendo experiência daquele amor cheio de caridade que doa com alegria e inspira entusiasmo. É preciso irradiar a beleza do que é verdadeiro na vida, porque só essa beleza realmente arrebata os corações e volta-se para Deus . É preciso entender aquilo que Pedro tinha percebido frente a Jesus transfigurado: “Senhor, é belo para nós estarmos aqui!” (Mt 17,4) e São Paulo, citando Isaías 52,7, “sentia-se confrontado com a tarefa de proclamar o evangelho.” [1]

            No entanto, para quem se reconhece amado por Deus e se esforça para viver o amor solidário e fiel em diferentes situações de provação da vida e da história, então se torna prazeroso viver neste final de século, neste nosso tempo, apesar de nos parecer cheio de coisas ruins e dolorosas, tentando interpretá-lo em seus enigmas dolorosos e desconcertantes. 

Segundo Martini é importante refletirmos tais perguntas: “Como Jesus exerce tal fascínio correspondendo às promessas de Deus para a salvação do seu povo? Como pode um homem tão generoso e humilde pôr ordem num mundo tão mau? O que significa o destino da derrota e da morte do qual estamos falando? Como pode a beleza suave do Crucificado Ressuscitado trazer a salvação para a humanidade cruel? Existem sofrimentos na vida física, mental e espiritual que às vezes pesam e dão a impressão de não ser capaz de comunicar a alegria do Evangelho. Todavia, em Cristo ressuscitado, o Pai, plenifica a vida  no Espírito, não só traz o triunfo sobre o silêncio da morte e é oferecida uma nova forma de homem novo, que é o segundo a plenitude do plano de Deus, mas também realiza-se o supremo êxodo de Deus ao homem e do homem a Deus.  A Páscoa nos convida a sair de si mesmo, para esquecer de nós mesmos, para apreciar a beleza do dom gratuito de si”.[2]

Portanto, quando “a Igreja do amor realiza a sua identidade de comunidade reunida pelo pastor  na caridade, ela se oferece como ícone vivente na Trindade, e ao mundo a beleza que salva.  No final dos tempos, o monte do Templo do Senhor será erguido no topo das montanhas e todas as nações correrão para Ele. Vem, vamos subir a montanha do Senhor, templo do Deus de Jacó, porque Ele vai nos ensinar seus caminhos e nós andaremos pelas suas veredas (cf. Is 2,1-3; Zc 8,20;14,16;56,6-8,60,11-14). Através do povo do Bom Pastor a luz da salvação chegará a muitos os atraído a Ele e a sua beleza salvará o mundo”.[3]

 

Autor: Profa. Susana Aparecida da Silva (Mestranda em teologia bíblica pela PUC-SP)



[1] MARTINI, Carlo Maria. Quale bellezza salverà il mondo? Centro Ambrosiano, Milano: ‘ra Pastorale, 1999.Tradução nossa.

[2] MARTINI, Carlo Maria. Quale bellezza salverà il mondo? Centro Ambrosiano, Milano: ‘ra Pastorale, 1999.Tradução nossa.

[3] MARTINI, Carlo Maria. Quale bellezza salverà il mondo? Centro Ambrosiano, Milano: ‘ra Pastorale, 1999.Tradução nossa.