O direito à intimidade da vida conjugal e familiar.

O ambiente da família, o lar, é o lugar normal da formação das crianças e dos jovens para a consolidação e o exercício dos valores fundamentais da vida, para a experiência da doação no amor recíproco, testemunhado pelos pais para com os filhos. 

As ciências psicológicas e pedagógicas, na reflexão atual, concordam em sublinhar a importância decisiva no desenvolvimento dos filhos, quando na família reina um clima afetivo e de profundo respeito, especialmente nos primeiros anos da infância e da adolescência.  Coloca-se em destaque a importância do equilíbrio, da aceitação e da compreensão em nível de casal, que terão uma presença positiva – tanto do pai quanto da mãe – nos anos importantes para os processos de identificação, e da relação de tranquilizante afeto para com as crianças (Cf. Cons.Pont. Fa. Sexualidade Humana: verdade e significado, 50).

A colocação da dimensão econômica como valor supremo da sociedade tem forçado a desagregação familiar e conjugal, fazendo com que muitos casais tenham que viver uma ausência prolongada da vida familiar. Há também em alguns ambientes um desinteresse educativo por parte de um dos pais, desvalorizando seu papel educador da personalidade dos filhos etc. A perda da função educadora dos pais e a distorção na escala de valores têm consequências no amadurecimento emocional e afetivo, como também na formação dos valores que nortearão a vida dos filhos.      

Quando o Beato João Paulo 2º afirmou que a família tem direito à intimidade da vida conjugal e familiar estava defendendo o valor essencial do lar como ambiente primário de formação e amadurecimento da pessoa para a sociedade. Quis recordar que na escala de valores a família deve estar em primeiro lugar. É necessário repensar os valores que fundamentam nossas famílias e nossa sociedade, para que a família seja o centro de interesse de todo o corpo social, ou o centro do mundo, como disse o Papa Francisco.

É necessário redescobrir o papel educativo do lar, colocando em foco a necessidade da presença dos pais junto aos filhos. Os pais precisam encontram tempo para estar com os filhos e entreter-se no diálogo com eles. Os filhos são a sua tarefa mais importante. Neste clima de intimidade familiar é necessário escutá-los com atenção, esforçar-se por compreendê-los, para reconhecer a parte de verdade que pode estar presente em algumas formas de insatisfação.

Os pais, na intimidade do lar, poderão ajudar os filhos a canalizar seus sonhos e aspirações, ensinando a refletir sobre a realidade da vida e das coisas. Os pais não vão impor um caminho aos filhos, mas apresentarão os recursos humanos e da fé que ajudarão os filhos a percorrer o próprio caminho. Dedicando tempo aos filhos e colocando-se ao lado deles com amor, saberão orientá-los para um verdadeiro amadurecimento da própria personalidade, segundo o exemplo do Cristo, o Senhor da vida e da esperança.

 

 

Dom Sergio de Deus Borges - Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana